Hoje sonhei com o término de uma relação. Tenho sonhado de tempos em tempos com isto. Alguns junguianos de plantão dirão que ando com medo, que é meu inconsciente sinalizando ou se anuncia por aí uma separação e blábláblá.
Não, queridos pseudo psicos, estamos bem. Muito bem e ponto.
Sonho por sonhar, sem neuras porque como diz o ditado sonhar não custa nada.
Sonho com separação, mas não com o ato em si, mas com a sensação.
Aquela sensação ruim na boca do estômago, pânico, vazio na alma que acompanha os primeiros dias, aquela ausência do corpo do outro não mais perto do seu corpo, a falta da voz, do cheiro, do tudo. Dos dias nublados, das reticências, dos questionamentos no ar, da ansiedade que fica, da angústia pelo reparo de danos que não acontecerá. Aquela dor no peito, aquela coisa toda doida ou doída.
Aquele dia que já amanhece desbotado, sem cor.
Aquele tempo de recomeço, empurrar fotos pro fundo da gaveta, doar os objetos comprados nas viagens idílicas. E aquela camisa que ele esqueceu, na saída apressada do apê e da sua vida? Tratamos de enfiar num lugar que jamais vamos cruzar, mas não jogamos fora. Quem sabe um dia a gente consiga olhar com indiferença aquele trapo de lembrança remendada de alguém que já passou? Usamos de todos os mecanismos de auto defesa para seguirmos adiante.
E dormir junto? Esta com certeza é uma das partes complicadas de não ter mais o outro, porque é um ritual do bem dormir enroscada, quentinha, apaziguada. Este é um quesito que precisa-se urgentemente de um manual de como ocupar o espaço vazio daquela king size vazia no escuro da sua noite. Agora me puxei na dor da ausência gritada e sentida (risos).
Já não se pode pensar em nós, em perguntas banais como quando um amigo pergunta, nesses tais dias nublados : - Você vai na festa do Bruno? E automaticamente você responde que sim, nós vamos. Para também automaticamente cair em si que só
você vai na festa do amigo. Plurais são descartados, com uma fisgada de dor.
Um tempo de tristeza, de ausência, de falta, de readaptação e de desintoxicação.
Não lido bem com fim de relação. Quem lida? Conheço gente que cai em pé, tipo gato, mesmo sofrendo. Eu não. Emagreço, arrasto correntes, durmo mal, penso mal, vivo mal. Pode ser um dia ou um mês, mas é uma temporada no umbral. Abandonos em definitivo não é a minha praia, não importa de que lado for. Claro, já saí de uma relação para outra e mesmo assim por maior que tenha sido a dose de paixão do momento, senti a falta do outro. Porque quando falo em dor de separação, não falo só quando você entra com a bunda e o outro com o pé. Quando você dá o cartão vermelho e pede pra sair, também dói e muito.
Saibam que não só o que leva é o que toma. O inverso é verdadeiro. E muitas vezes paulatinamente. Sou daquelas que vou até o fundo do poço, comigo mesma. Sem melodramas que não sou chegada na latinidade da coisa. O drama fica no meu interior, eu com eu. Até que um dia consigo emergir e aí sim viro a página, enterro, rezo a missa de sétimo dia, tiro o luto e volto pra luta, com o perdão do trocadilho. E aquele ser que me fez sofrer ou aquela relação que a fatura foi alta fica totalmente no passado. É uma catarse particular. Necessária. Mas neste processo enquanto não se dá o tal impulso pra sair do poço fico mal, não posso negar. É praticamente uma dor física, crispada e traduzida na leitura dos meus olhos.
Então é isso, tenho sonhado com esta incômoda sensação do outro afastado, da relação quebrada feito bolacha cream cracker.
A única sensação boa, em sonhos ou na vida real, é a certeza de que é sempre passageira, não vivem em nós por muito tempo. Um dia acordamos e descobrimos, cheios de prazer e surpresa que ela foi embora junto com a pessoa. Alguns masoquistas estalam os dedos, assobiam por ela, mas não adianta ela pegou as malas e partiu. Não está mais lá.
E vamos embora recomeçar. Tudo de novo.
Amar tem destas coisas.