Na mitologia popular o
avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo.
Na última segunda- feira ainda impactada com a tragédia de Santa Maria, ouvi alguns comentários (sem citar os miseráveis) de pessoas que estavam de saco cheio porque o noticiário só falava do ocorrido como se não houvesse outras notícias e blábláblá. E pessoal, era só segunda-feira, um dia após tudo ter acontecido! Ou seja, tudo estava fresco e latejante para quem acordou num domingo ensolarado lá fora e nublado na cabeça dos espectadores (sensíveis) do drama.
Fiquei pensando até onde vai o autismo social, o egoísmo latente de alguns que somente orbitam envolta dos seus umbigos. Compaixão palavra que não existe no vocábulo destes pequenos seres. Empatia então, para que? Um comentário até me chocou, pois vinha de uma pessoa descendente de um povo dizimado, um povo que sofreu atrocidades e do qual se fala até hoje, passado tanto tempo. Entenda-se aqui que lembrar é um mecanismo de gravação. Gravando, internalizamos a sensação e nos alertamos de um modo genérico para evitar um futuro semelhante.
Porque expomos as feridas, porque memoriais, porque precisamos falar incessantemente sobre estas situações que nos atingem direta ou indiretamente? Porque o esquecimento torna fácil de tudo ficar como está, porque a alienação estagna, porque o banalismo gera indiferença, porque o conformismo diante do “não vai mudar, deixa assim” faz repetir falhas, porque não esquecer, cobrar o que nos é de fato e de direito e tocar na mesma tecla é a diferença para que o acomodado se mexa. Porque um povo unido nas cobranças faz os governantes se mexerem. Porque a massa em ação traz atitudes. Porque a revolta é salutar para a mobilização e dignidade para viver. Revolucionar é importante e ela só acontece quando saímos do nosso quadradinho individualista e aconchegante. E principalmente porque desconhecemos a força do nosso poder.
Quando deixaremos de ser avestruzes? Quando assumiremos a nossa participação no ato e deixaremos de ser platéia? Uma platéia com nariz de palhaço, diga-se de passagem. Não é a toa que a maioria do povo está espantado com a outra notícia trágica da semana, olhando com o distanciamento incômodo ( ou confortável?) e inconsciente que torna a culpa dos outros e não nossa. Pura transferência de responsabilidade. Somos sim atores ativos neste resultado também trágico: o retorno do presidente do senado!
Não esqueçam, avestruzes queridos, que o congresso é feito de senadores eleitos por nós mesmos! O voto é secreto lá dentro, mas aqui na vida real o secreto passa a ser desvendado e decifrado quando o resultado é o que temos como representantes do nosso país, pessoas que NÓS elegemos. Votamos e deletamos até a próxima obrigatória eleição.
Somos nós, bichinhos enfiados na terra, e o nosso ostracismo que contribui para que tenhamos essas reações de espanto e horror em nossas vidas.
Enquanto passivos, enquanto meio vivos.
Enquanto avestruz que só fala.
Na última segunda- feira ainda impactada com a tragédia de Santa Maria, ouvi alguns comentários (sem citar os miseráveis) de pessoas que estavam de saco cheio porque o noticiário só falava do ocorrido como se não houvesse outras notícias e blábláblá. E pessoal, era só segunda-feira, um dia após tudo ter acontecido! Ou seja, tudo estava fresco e latejante para quem acordou num domingo ensolarado lá fora e nublado na cabeça dos espectadores (sensíveis) do drama.
Fiquei pensando até onde vai o autismo social, o egoísmo latente de alguns que somente orbitam envolta dos seus umbigos. Compaixão palavra que não existe no vocábulo destes pequenos seres. Empatia então, para que? Um comentário até me chocou, pois vinha de uma pessoa descendente de um povo dizimado, um povo que sofreu atrocidades e do qual se fala até hoje, passado tanto tempo. Entenda-se aqui que lembrar é um mecanismo de gravação. Gravando, internalizamos a sensação e nos alertamos de um modo genérico para evitar um futuro semelhante.
Porque expomos as feridas, porque memoriais, porque precisamos falar incessantemente sobre estas situações que nos atingem direta ou indiretamente? Porque o esquecimento torna fácil de tudo ficar como está, porque a alienação estagna, porque o banalismo gera indiferença, porque o conformismo diante do “não vai mudar, deixa assim” faz repetir falhas, porque não esquecer, cobrar o que nos é de fato e de direito e tocar na mesma tecla é a diferença para que o acomodado se mexa. Porque um povo unido nas cobranças faz os governantes se mexerem. Porque a massa em ação traz atitudes. Porque a revolta é salutar para a mobilização e dignidade para viver. Revolucionar é importante e ela só acontece quando saímos do nosso quadradinho individualista e aconchegante. E principalmente porque desconhecemos a força do nosso poder.
Quando deixaremos de ser avestruzes? Quando assumiremos a nossa participação no ato e deixaremos de ser platéia? Uma platéia com nariz de palhaço, diga-se de passagem. Não é a toa que a maioria do povo está espantado com a outra notícia trágica da semana, olhando com o distanciamento incômodo ( ou confortável?) e inconsciente que torna a culpa dos outros e não nossa. Pura transferência de responsabilidade. Somos sim atores ativos neste resultado também trágico: o retorno do presidente do senado!
Não esqueçam, avestruzes queridos, que o congresso é feito de senadores eleitos por nós mesmos! O voto é secreto lá dentro, mas aqui na vida real o secreto passa a ser desvendado e decifrado quando o resultado é o que temos como representantes do nosso país, pessoas que NÓS elegemos. Votamos e deletamos até a próxima obrigatória eleição.
Somos nós, bichinhos enfiados na terra, e o nosso ostracismo que contribui para que tenhamos essas reações de espanto e horror em nossas vidas.
Enquanto passivos, enquanto meio vivos.
Enquanto avestruz que só fala.
2 comentários:
Nesse ponto acho que tenho uma visão bem pessimista da sociedade. Com a internet e a globalização, a enxurrada de notícias vem a cada momento, estão todos ávidos por coisas novas o tempo todo, é meio que um vício, então nada pode ficar muito tempo sendo debatido, tem sempre que ser substituído pelo novo, mesmo que esse novo seja a coisa mais banal do mundo.
Lamentável tudo isso.
Beijocas
Belo e reflexivo texto!A beleza está na verdade impressa na realidade dura e viciante que nos acompanha.Parabéns pelo alerta! Bjs Eloah
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