terça-feira, 20 de maio de 2008

Rodrigo, pra sempre presente

Hoje faz 6 anos que a tua viagem começou. Quando comprou a passagem era só de ida. Você já sabia que era um caminho sem volta.
Quando lembro do último verão que passamos juntos, ironicamente para comemorar a tua vida que recomeçou após o tratamento, penso no teu olhar longe, vago ( ou resignado?), da tua maneira introspectiva olhando para o mar numa certa manhã que fui ao teu encontro na praia enquanto tomavas chimarrão, nas tuas palavras e passeios com a Vic, na discussão que tivemos numa certa noite porque não queria que te entregasse, naquele último fevereiro.
Talvez eu já sabia, lá no fundo, que você pressentia um não futuro ali acontecendo.
Mais alguns meses de luta, esperanças em vão e espera daquilo que sabíamos que era inevitável, mas não queríamos acreditar. Eras tão novo, tão cheio de vida, tão bonito ... desde que foste pra Recife não reconhecia as tuas mudanças de humor...
Numa segunda feira vieram te buscar, quem te convidou para o passeio eu ainda não descobri, quem pegou na tua mão e atravessou contigo esta estrada desconhecida também não sei.
Noite chuvosa, dia pertubador, agonia no peito, telefonema triste, notícia trágica, passagem na madrugada com destino ao nordeste, mas não à passeio. Era roteiro definido cheio de pesar e cheiro de saudade, pesar e dor...
Encontro inevitável com o começo de uma nova fase das nossas vidas onde eu permaneço e você se foi, para sempre.
Você sempre soube que não gosto de mudanças no meu calendário anual da minha inexplicável vida, mas de certo estava, em algum lugar, rindo. Aquele teu riso debochado satânico do tipo: vou te incomodar gordinha! Igual quando eu ficava te perguntando: - Tô gorda?
Então veio esta catástrofe.
Ninguém me avisou, foi tudo tão rápido. Não estava preparada, mesmo que meses antes já havia sinais de que a sua partida era fato consumado.Primeiro veio a dor quase física, negação, logo em seguida a raiva. Afinal você havia me abandonado e esta partida era definitiva! Sensação de abandono.Era uma nova vida, sem tu.
Então juntei os retalhos que sobraram e recomecei. Por hábito de cair e levantar, por resiliência, pela Vic, pela mãe, sei lá.
Dentro dos meus ilusórios planos futurísticos uma das minhas idéias era nós envelhecendo juntos e havia nesta imagem composta um certo conforto e alento de que apesar de cada um viver a sua vida, estarmos irremediavelmente unidos pelos vínculos de cumplicidade, travessuras, passagens e momentos que nos fazia irmãos nesta caminhada.
Então você me deixou e eu fiquei aqui, sem respirar num primeiro instante e o vazio se instalou. Um vazio silencioso, daqueles silêncios que falam, que pesam.
Foi difícil os primeiros dias, translado, corpo, retorno, dor, tristeza, equilíbrio para segurar a onda familiar que te confesso, muitas vezes não tive, amigos especiais. Superação, do que? Nem sei se superei, só sei que fui sobrevivendo.
A saudade é tão doída no início que a gente acha que não vai suportar e quando o tempo vai passando e ela vai aumentando, esmagando, sufocando parece que não vai dar pra agüentar e aí vem o milagre, começamos a nos acostumar (ou acomodar) com a “bichinha” e ela se torna uma nova companheira de jornada, espaçosa e possessiva. E isto não impede de termos constantemente dores mais fortes, em determinados dias.
O tempo passou e não sei se me acostumei com idéia, no começo tinha receio de que fosse esquecer a voz, a risada, as expressões. Doce ilusão porque viemos da mesma carne e olhar para mim e pra nossa família em determinados momentos me remete direto ao teu jeito. Está impresso no coração, na alma. Ferida exposta.
Lembro de ti todos os dias, sem exagero.
A alegria já não é mais completa quando acontece algo positivo, o céu nunca mais fica azul de brigadeiro. Tem sempre uma sensação de desbotado no ar.
Em certos instantes a tua presença é forte e quando quero te contar algo que aconteceu, me dou conta de que não estás mais aqui. Aí dói, meu véio. Ah dói... E a tua falta se faz mais pungente epalpável.
Se anos antes falassem sobre isto, na acreditaria no que aconteceu nas nossas vidas.
Mas o tempo que passamos juntos foram importantes e sei, com uma certeza espantosa, que o caminho não terminou e a nossa história ainda está sendo construída e que o nosso reencontro vai acontecer.
Sei que a missão das pessoas tem tempo estipulado e que quando ele expira, elas se vão e passam a viver dentro do nosso coração.
Tu permanece aqui junto de mim e no plano que está, olha e zela por nós, participando e torcendo pela nossa felicidade e realização.
Preciso acreditar nisto pra seguir em frente. Me agarro nesta idéia.
Sinto quando está perto de mim, a tua presença é quase palpável por mais louco que pareça.
Não existe um adeus, apenas um até logo
Beijo mano da tua Caro.
Te amo. A toda a hora. Sempre.

4 comentários:

ale disse...

Carol querida, lembro perfeitamente do rosto, da pele morena e do sorriso dele, bonitão! E amiga, te digo que nada como o tempo pra aliviar dores, todas elas, por mais clichê que isso pareça, é verdade. Belo texto.

Unknown disse...

Nossa Carol, acabei de ler em lágrimas, nem sei o que dizer. bjs Nick

Carolina disse...

Nicolete, que bom te ver por aqui. Apareça sempre que possível... Bjokas e saudades

Carolina disse...

Ale amiga, obrigada pelo carinho de sempre...