quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pragmática ou confrontadora?


Outro dia, atolada de trabalho, irrompe na sala uma colega reclamando de que não importa para que setor ela é transferida que sempre há fofocas no ar.

Pessoa bacana, simpática e cheia de vida ela é, mas circula em volta (ou dentro) de fofocas corporativas.
A pessoa atarefada deixa a alegre desabafar e como quem fala do tempo, de forma até desleixada propositalmente, questiona:
- Quem sabe não é a fofoca que te persegue, é você que persegue ela? Se você muda de setor e mesmo assim as fofocas estão sempre presentes, talvez você tenha que rever os teus conceitos...

A alegre olha a outra chocada, estufa o peito, bufa e sai da sala fincando o salto agulha. Ofendida como só ela.

Ás vezes é hora de parar de enxergar nos outros o que está em nós, só assim é possível mudar o ângulo de projeção. A linha da negação encontra-se no meio do caminho entre a fuga e a sinceridade com o nosso eu mais íntimo.
Se o script anda se repetindo na sua novela diária, acredite que cenário e personagens não mudaram de figurino. A vestimenta continua a mesma. Sinalizador de que “ há algo de podre no reino da Dinamarca”. Concorda, Hamlet?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Não ao PAC!



Personagem do desenho A Corrida Maluca

“Adorei seu post, mas como era muito longo não deu pra ler inteiro, mas deixei um coment,tá?”
mensagem que recebi no MSN de alguém do planeta Nonsense que fez uma visita ao Café e Papo.rs

Outro dia estava num dos meus santuários curtindo várias leituras e ouvindo música, na livraria Cultura, quando ouço na minha frente um senhor dizendo assim: ‘- Olha Fulana, este livro deve ser bom, mas é muito grosso...’ Me deu vontade de emendar: - Grosso é quem, tu ou o livro? Mas como estava sem vontade de ser ácida naquele momento prazeroso, olhei para o livro que estava folheando e dei uma boa risada, como se fôssemos cúmplices do besteirol alheio.

Aquela velha frase “Devagar e sempre” já foi pro lixo. Hoje devagar e sempre chega atrasado! Concordo, precisamos ser polivalentes, multitarefeiros,  viver internamente a revolução tecnológica é sine qua non (sem o qual não pode ser). Em contrapartida há os que comem cru, pois na ânsia de não achar o caminho do meio, do equilíbrio, esbarram na própria ansiedade de viver o tudo aqui e agora e no fim da estrada se dão conta de que não viveram nada, somente ficaram a margem das oscilações do seu próprio self.

Passamos batido por coisas, mas relações e pessoas não contam no pacote de aceleramento de crescimento.

Outro dia uma amiga comentou que foi na nutricionista e a mesma lhe disse que descascasse a maçã, porque com a onda de agrotóxicos tinha que cuidar isto e blá blá blá. A minha acelerada amiga disse que seria impossível comer a tal fruta porque não podia parar para descascar uma fruta entre um projeto e outro no trabalho. Fiquei com cara de planta. Será que ela ainda tem um tempinho pra transar com o namorido e desfrutar um chopinho com os amigos? Que significado terá, para ela, a palavra mo-men-tos?

Nem a fruta estamos mais saboreando!
Perdemos o tesão pelos mínimos detalhes que fazem total diferença no resultado final.

Robôs que somos,  periga termos agendado no smartphone o dia e o horário para falar com aquela criatura que criamos e/ou geramos. O tal do filho. Sabe quem é?
Há os que tem agenda até para programar o fim de semana! Vade retro!

Sou acelerada, rapidinha em tudo o que faço.E como boa geminiana que sou faço várias coisas ao mesmo tempo. Minha mãe diz que além de ter nascido 10 dias antes do previsto, ela não teve tempo de chegar na sala de cirurgia, nasci no corredor do hospital. Quando meu pai terminou de fazer a baixa no hospital o médico já estava dando os parabéns. Até aí tudo bem é o meu jeito de existir e ser por estas bandas, mas a pergunta que não quer calar: estamos correndo para onde? Será que vamos parar ou melhor (ou pior), aonde nos levará toda esta maratona?

No desejo de otimizar com eficácia a administração do nosso tempo, negativamos fatos e relações valorosas.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Liberdade total e irrestrita a fantasia


Esta semana foi divulgado um estudo britânico que afirma que o incensado Ponto G não existe, somente na imaginação feminina. Mas de que ingredientes é feita a nossa relação com o sexo do que com grandes doses de estimulação física, visual e também de imaginação? Somos bichinhos fantasiosos que precisamos de estímulos. No seco nada rola, pelo menos para maioria, creio eu. E é fato consumado, que nós mulheres, somos mais criativas no tema relações. Não falo que os homens não são, longe disso garotos, mas vocês não perpetuam o fator imaginação depois de um tempo, até porque tem muito a ver com a conquista. Mas isto dá outro post. Desculpa se magoei...

Os especialistas que defendem a causa dizem que a hipersensibilidade da região se deve às suas múltiplas terminações nervosas. A mítica zona erógena foi descrita pela primeira vez por um cientista alemão em 1950 e de lá pra cá, algumas mulheres se tornaram templários em busca do tal Santo Graal do prazer. Em busca dele algumas quebraram paradigmas e irromperam terrenos desconhecidos e outras tranqüilamente aceitaram o conceito, pois já conheciam a fonte somente ainda ninguém tinha teorizado em cima daquilo que entendiam como prazer nas suas relações. Prazeres mútuos. Sabiam dar e receber prazer na mesma proporção. Se um parceiro não sabia, elas ensinavam o dito cujo, sem pudores nem neuras. Se ele não aprende é outra história.

A maioria das mulheres têm como sexo um dos fatores fundamentais para relação andar. Sexo é sexo, amor é amor, mas dificilmente uma relação vai adiante se o sexo bom entre os casais não acontece. É premissa básica. Se não for bom e aí se inclui dar e receber prazer, não estamos falando dos autistas que inflados no seu mundinho nem lembram de dar prazer, a coisa toda não vai adiante. É inevitável a frustração externa e acabamos levando para o meio da nossa cama esta sensação muitas vezes vestida de outras desculpas esfarrapadas, mas que se cutuccarmos tem a ver com sexo sem química, sem graça e mofado. Sexo é ator principal junto com amor, parceria, cumplicidade  e outros itens vitais para a relação andar. Um não excluí os outros, mas tem que ser simbiótico.

Não é de hoje que exploramos o nosso corpo em busca de infinitas formas de prazer para nós. Fazemos isto desde a tenra idade com objetivos distintos a cada fase da nossa vida.

A pesquisa foi feita com mulheres entre 23 e 83 anos e 56% declararam ter o ponto G, a maioria era jovem e sexualmente mais ativa do que a média. Mas o estudo foi considerado deficiente por Beverley Whipple, que ajudou a popularizar o Ponto G nos anos 70. Ela afirma que o estudo não investigou opiniões de lésbicas e bissexuais, pessoas que se utilizam de diferente técnicas sexuais. Neste ponto, com perdão do trocadilho, voltamos a imaginação e nós mulheres com nossas vontades de inovar. É mais fácil você achar um homem acomodado sexualmente do que uma mulher que queira passar a vida inteira querendo só o papai e mamãe. Sendo assim, ativas ou não somos talentosas na arte de inovação.

E por isto mesmo continuo acreditando que o Ponto G existe e nós, mulheres que entendemos dele. Ponto!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Rodrigo. Para sempre presente.

Há 42 anos você nascia.
Faz 8 anos que o início da tua viagem, pra longe da tua família, começou. Quando comprou a passagem era só de ida. Você já sabia que era um caminho sem volta. Lembro nitidamente o último olhar antes de entrar no elevador. Não quiseste despedidas no aeroporto, quando foi morar em Recife.

Quando recordo o último verão que fui pra Recife, ironicamente para comemorar a tua vida que recomeçou após a quimio, penso no teu olhar longe, vago (ou resignado?), uma calma ali acontecendo enquanto olhava  para o mar numa certa manhã  em que fui ao teu encontro, na praia, enquanto tomavas chimarrão. Lembro das nossas conversas, dos teus passeios com a Vic, das risadas roucas, da discussão que tivemos numa certa noite porque não queria que te entregasse.
Aquele último fevereiro foi memorável de uma forma preciosa, regada a esperança que virou pó nos meses seguintes.
Talvez eu já soubesse, no mais íntimo de mim, que você pressentia um não futuro ali acontecendo.

Mais alguns meses de luta, esperanças em vão a espera daquilo que sabíamos que era inevitável, mas não queríamos acreditar. Eras tão novo, tão cheio de vida, tão bonito, pura adrenalina correndo nas tuas veias como os tubos das ondas que surfava.

Então veio a catástrofe.

Numa segunda feira te buscaram, quem te convidou para o passeio eu ainda não descobri, quem pegou na tua mão e atravessou contigo esta estrada desconhecida também não sei.

Noite chuvosa, dia perturbador, agonia no peito, telefonema triste, notícia trágica, aeroporto na madrugada com destino ao nordeste, mas não para passear. Era com roteiro traçado para a burocracia do translado do seu corpo para descansar em nossas terras gaúchas. Último desejo. Estado de choque composto de pesar, saudade, perplexidade e dor...
Encontro inevitável com o começo de uma nova fase das nossas vidas onde eu permaneço e você se foi, para sempre.

Você sempre soube que demoro a me adaptar as mudanças no meu calendário anual da minha inexplicável vida, mas decerto estava, em algum lugar, rindo. Aquele teu riso debochado, satânico, recheado de humor inteligente que expunha quando queria implicar comigo, quando aprontava as tuas de irmão mais velho.

Ninguém me avisou, foi tudo tão rápido. Não estava preparada, mesmo que meses antes já havia sinais de que a sua partida era fato consumado. Primeiro veio a dor quase física, negação, logo em seguida a raiva. Afinal você havia me abandonado e esta partida era definitiva! Sensação de desamparo.
Era uma nova vida, sem tu. Briguei com o teu imaginário por meses a fio. Necessitava destilar o veneno.

Dentro dos meus ilusórios planos futurísticos, uma das minhas idéias concretas era nós envelhecendo juntos e havia nesta imagem composta um certo conforto doce de que apesar de cada um viver a sua vida, estarmos irremediavelmente unidos pelos vínculos de cumplicidade, travessuras, passagens e momentos que nos fazia irmãos nesta caminhada.

Então você me deixou e eu fiquei aqui, sem respirar num primeiro instante e o vazio se instalou. Um vazio silencioso, daqueles silêncios tensos que falam, que pesam, que tomam forma.

Foi difícil os primeiros dias, translado, corpo, retorno, dor, tristeza, equilíbrio para segurar a onda familiar que te confesso, muitas vezes não tive. Amigos foram essenciais nestas horas, sempre ali. Superação? Nem sei se superei, só sei que fui sobrevivendo.

Então juntei os retalhos que sobraram e recomecei. Por hábito de cair e levantar, por resiliência, pela Vic, pela mãe, sei lá.

A saudade é tão doída no início que a gente acha que não vai suportar e quando o tempo vai passando e ela vai aumentando, esmagando, sufocando, surge o milagre vestido de resignação.Começamos a nos acostumar com a “bichinha” e ela se torna uma nova companheira de jornada, espaçosa e possessiva. E isto não nos impede de termos dores bipolares, em determinados dias. Vivemos na gangorra dos sentimentos.

O tempo passou e no começo receava que fosse esquecer a voz, a risada, as expressões. Pura ilusão porque viemos da mesma carne e olhar para mim e pra nossa família em determinados situações remete direto ao teu jeito. Está impresso no coração, na alma. Ferida exposta.

Lembro de ti todos os dias, sem exagero.Quando sinto o cheiro do mar entro em sintonia fina com a tua lembrança mais forte.


A alegria já não é mais completa quando acontece algo positivo, o céu nunca mais fica azul de brigadeiro. Tem sempre uma sensação de desbotado no ar por mais feliz que esteja.

Em certos instantes a tua presença é forte e quando quero te contar algo que aconteceu, me dou conta de que não estás mais aqui. Aí dói, meu véio. Ah dói... E a tua falta se faz mais pungente.

Se anos antes falassem sobre isto, na acreditaria no que aconteceu nas nossas vidas.

Mas o tempo que vivemos juntos foram fundamentais para compreender, com uma certeza espantosa, que o caminho não terminou e a nossa história ainda está sendo construída e que o nosso reencontro vai acontecer.

Sei que a missão das pessoas tem tempo estipulado e que quando ele expira, elas se vão e passam a viver dentro do nosso coração.

Tu permanece aqui junto de mim e no plano que está, olha e zela por nós, participando e torcendo pela nossa felicidade e realização.

Acredito nisto pra seguir em frente. Me agarro nesta idéia.

Sinto quando está perto de mim, a tua presença é quase palpável, por mais louco que pareça.

Não existe um adeus, apenas um até logo

Beijo mano da tua Caro.
Te amo. A toda a hora. Sempre.

PS* este texto está  aqui no blog desde 2008, mas hoje reformulei algumas partes.