quarta-feira, 21 de julho de 2010

A cara de alguns dias

Liza Minelli no filme Cabaré


A vida é forte.
E tem dias que ela acorda com cara de cortesã. Daquelas que já passaram da validade, vestida de négligé preto mal escondendo as dobras das carnes de um corpo outrora curvilíneo. Maquiagem borrada, um leve suor nas têmporas, olhos espertos carregados de cajal marroquino. Olhar cheio de bagagem de uma vida bandida. Perfume Guerlain, doce.Uma piteira descansando no canto esquerdo dos lábios finos borrados de batom vermelho carmim. Espirais de um cigarro Gauloises. Traços de ironia fina naqueles lábios de antigos prazeres. Voz rouca, risada misteriosa impregnada de segredos envelhecidos, entesourados em caixas de cetim de poás preto e branco.
A senhora gorda aguarda, plácida num canapé de brocado gasto, o jovem cliente sob uma camada de tranqüilidade disfarçada.
A fome lateja dentro dela. Fome do banquete que a espera.
E o frescor e o viço servindo como sobremesa.

sábado, 10 de julho de 2010

A fúria e os tempos modernos de homens arcaicos


“- Qual de vocês que é casado que nunca brigou com a mulher?Que não discutiu, quem até não saiu na mão com a mulher? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.”


Esta frase é do Bruno, aquele homem que recebeu uma oportunidade de reverter a história de sua vida e trilhar o sucesso como resultado de superação. Então apareceu, entre muitas baixezas tal qual se traduz a frase acima, mais um daqueles homens boçais estagnados no tempo (das cavernas), que ainda não descobriu que camisinha faz toda a diferença, contra as doenças e as ‘incomodações’ futuras.

Mais um animal que vivia enjaulado e mostrou as garras a La Wolverine.

Agora o mundo refestela-se com as mazelas da sua vida: família, abandono, vila, morro e o diabo a quatro. Mas a verdade é uma só: pessoa ruim se esconde, mas não por muito tempo, independente de qualquer fato da sua vida. A crueldade está ali, latente, gritando, suplicando pelo alimento que mantém viva a chama da fúria. Pronta para mostrar as garras, até que um dia solta-se o gatilho e o disparo acontece. Estrondo, adrenalina, pensamento zero. Foi, já era. O bicho solta as suas feras internas. Infeliz de quem cruzar o seu caminho. Será o alvo.Nada, após aquele milésimo de segundo entre o disparo e o objetivo, será igual. Tudo vai mudar. Incontestável.

Realmente os casais brigam , as pessoas discutem, o mundo tem seus momentos de raiva e fúria, mas daí para a violência existe uma imensa distância que jamais deve ser ultrapassada. Digamos melhor, existe um abismo. E existe mais ainda, algo mais concreto, um código de ética e moral.
Nada, e repito nada justifica qualquer ato de violência! Jamais.
Ponto final de vidas enterradas. Dele e dela.

sábado, 3 de julho de 2010

Não tô entendendo - parte II


Sabe o que mais me irrita em tempos de Copa?
Brasileiro dando pitaco, se achando o rei da cocada preta do futebol. Ok, você vai dizer que faz parte. Temos liberdade de expressão e blá blá blá... Se penso logo existo, se existo faço julgamentos, se faço julgamentos é porque penso e se penso é porque vivo. E a bola vai girando no gramado da vida.

Vai lá jogar no meio da pressão do título, corre atrás da bola 90 minutos e executa todos os passes de forma exemplar para que chegue no gol. Pra isso não pode existir adversários, ok? Conclusão:  não é jogo, é a ilha da fantasia. E no meio tempo desta adrenalina fica quatro anos comandando uma equipe que faz sessenta jogos e perde somente seis, dá uma olhadinha pro time em jogo mata mata e sente o peso da responsabilidade a cada jogo. Gerir cabeças, seja em que tipo de equipe se tem na mão, exige autoridade e pulso firme. Mas respeito é importante em tudo na vida. Portanto respeito é bom e faz bem pros dentes da frente.Não é moleza! Moleza é sentar na frente da televisão, abrir uma cerveja e se achar o fodão (desculpa o palavrão, mas foi necessário aqui) do futebol, assistindo as idiotices de um monte de caras que só sabem passar informações, distorcidas e veladas, subestimando a inteligência dos outros. Porque quero saber se a maioria ali já foi jogar futebol, futebol mesmo ao invés de pelada com os amigos?

Como eu já disse, padre pra ser conselheiro matrimonial precisa primeiro casar.

Sabe o que nisto se traduz ? Na velha e já desbotada máxima: quem critica familiar, critica qualquer um. Esses somos nós, que nunca enaltecemos nada nosso. Sempre supervalorizando os nossos defeitos e aplaudindo a galinha do vizinho.

Quem mereceu voltar para casa não foi o Dunga e sua equipe. Foi o povo brasileiro e sua baixa auto-estima.

Não tô entendendo - parte I

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Que mundinho contraditório.


Como vamos entender as pessoas que compõe a dita sociedade.

Estamos numa época onde o que conta é ter atitude. É importante ter personalidade, deixar a sua marca, imprimir seu DNA. E mais ainda, fazer diferença.

Aí quando chega alguém e diz o que pensa, ele é tosco, bronco e grosso. Já sei você vai dizer que uam coisa é ser sincero e outra é sincericídio. Ok, concordo, mas...

Ainda estamos patinando no que realmente queremos, basta alguém seguir na contramão do fluxo dos que vão atrás dos “uniformizados” para ser taxado de polêmico. Então se instala o caos, a crítica e o julgamento. E por consequência, o rótulo. Rótulo é aquele produto muito usado pelos preconceituosos que adoram bater no peito e se intitular de modernos (da casa pra fora).

Brasileiro se diz tão cabeça aberta, mas o que mais faz é definir tribo, conceituar o que é supérfluo e de quebra carimbar com título e rótulo o que for "estranho" aos olhos deles. E ainda ostentam por estas bandas que temos liberdade de expressão. Preciso rir, espera que eu já volto.


Em alguns momentos sinto que somos muito provincianos.