domingo, 23 de janeiro de 2011

Mãe no pedaço

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Não acredito que você nasce com instinto maternal, por mais bonecas que tenha acumulado nos natais da sua infância. O instinto acontece quando você vira mãe. Ou não. Simples assim.
Quando nos tornamos mães, entre o deslumbramento e a incerteza, você olha aquele pacotinho fofo de pele alva e bochechas rosadas e não sabe se vai dar conta do recado. Devora com os olhos aquele presente que Deus te deu e se sente em alguns dias onipotente e noutros impotente, sem saber como vai exercer esta  tarefa tão honorável, tão nobre.
O presente cresce, expande os horizontes e você continua sendo a pessoa mais especial. O super herói desta revistinha em quadrinhos chamada vida a dois, desta curiosa relação.
Tem dias que você está lá concentrada em alguma coisa e de repente ouve aquele criaturinha que tem asas nos pés e muitos cachos de anjinho, correndo e gritando: - mãe, mãeeee, manhêeeee!!! Você para tudo e pergunta o que aconteceu. Ela ofegante somente te olha, aquele olhar de danadinha e com adoração simplesmente diz: - nada. Nestas horas o mundo congela e você se sente beijada por Deus rodeada por  aqueles bracinhos queridos e miúdos num anraço forte de amiga. É ali naquela fase de tantas descobertas que você alicerça a sua relação, pavimenta a estrada e dá o tom desta relação tão delicada. A base da sua relação é a soma do dia a dia, da convivência e dos momentos que rechearão mais tarde as lembranças do seu, até então, pequeno ser. O vínculo está latente pedindo pra ser firmado no contrato desta relação onde reza a lealdade e não há espaço para a quebra de cláusulas.
Há um tempo em que você entende que do nada, numa virada de noite, de um dia para ooutro, sem pedir licença e nem dizer adeus você deixa de ser o tal ídolo do gibi da vida a dois. E se você for sábia saberá entender que o seu presente com asas nos pés tem que conhecer outros mundos e lidar com outras pessoas. E é neste tempo que você deve compreender que estar atento não é ser invasivo, que apoio moral não é impedir o sofrimento e sim estar ao lado nas horas ruins e melhor ainda, nas horas boas. Mas os momentos não serão só com você, haverá em alguns, outras pessoas. E talvez em outros você não será incluída. Preste atenção, o contrato lá atrás foi assinado e ninguém, e grifo esta palavra, tirará o seu lugar. É pátrio poder puro, embora seu filho antes de ser seu filho é um indíviduo de carne e o osso e vai escrever a sua história com suas próprias mãos. Mas você também tem a sua vida, certo? A sua história não pode parar enquanto mãe, enquanto mulher, enquanto profissional.O desafio está em saber lidar com cada face que compõe você, pessoa única.
Há um tempo em que seu filho está testando o mundo como um grande laboratório de Dexter e você de certa forma está SE testando nas situações diárias no fantástico mundo da adolescência alheia tão próxima de você. Falo fantástico porque o seu filho em algumas situações será um espelho de você, ele te forcará inconscientemenete a viajar de volta  para um passado logo ali, ainda fresco na sua memória, onde mudando a roupagem e o cenário os questionamentos, os dilemas e as dúvidas são idênticos. Por isto se você é mãe não banque a falsa moralista e nem tenha amnésia cômoda fingindo que não entende seu filho.Você já viveu e arrisco dizer que ainda vive em algumas situações semelhantes àquelas que seu filho vive hoje. Sim, na banque a adulta rançosa e arrogante nestas horas. Isto não reza no contrato, lembra? O que distancia vocês é somente o tempo que te deu mais oportunidade de acertar ou errar e já saber o resultado de antemão, em alguns casos. Talvez tenha agido diferente, tomou outro caminho. Beleza. Bom pra você? Não sei que resultado deu no final... Mas lembre-se cada um cada qual, somos um boi não uma boiada. Nada é mais triste do que uma mãe (pessoa)  que engana a si mesma. Pior, nada mais lamentável do que um adulto fazendo de conta de que nunca foi adolescente com todo o seu kit existencial. Talvez a vida se torne mais leve quando somos fortes o suficiente para nos encararmos, quando olhamos pra dentro e não escondemos de nós mesmos as nossas verdades íntimas, o nosso lado B, o lado negro da força. Admitindo num silêncio respeitoso as nossas fraquezas e limitações.
E por fim, como ainda não entrei na fase adulta da minha garota que permanece com asas nos pés, mas já não tem mais cachinhos, cá estou eu aqui, em pleno domingo de garoa, contando os dias para que chegue o próximo final de semana  e assim  matar a saudade da minha pequena grande mulher, que anda viajando e logo voltará para casa.
Risos antecipando o momento.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Da série: fora de série

Agnes - Filme Meu Malvado Favorito

Pessoas queridas, eu acho que vivo num mundo paralelo.

Desculpa, mas com todos os adventos da mulher moderna, igualdade de direitos, globalização e era digital ainda existem homens que proíbem suas mulheres de usar mini-saias ou esmalte vermelho? Pensei que isto acontecia ultimamente lá no Afeganistão.

Ou pior, ainda tem mulher que se sujeita a isto?

Não lembro de ter um namorado assim nem na adolescência, mas lá vai  minha teoria que os afins se acham, se não sou assim como acharia um seguidor do talibã assim pra mim? E olha que sempre fui namoradeira. Lembro de uma amiga, aos 17 anos, dizer que não podia colocar roupa transparente porque o namorado não deixava. Eu dei risadas na época e não levei a sério, até que o namorado trocou ela pela mais dada do colégio e estão casados até hoje. E com certeza a dada usava muita roupa transparente...

Pensei que um cara que te cerceia, nestes pequenos detalhes,  fosse um sinalizador de que desta relação só vem encrenca.

Estou errada ou eu que sou um ET?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Esta Senhora nos olha, de algum lugar...

Esta Senhora, maldita senhora.
A morte não pede carona, vem dirigindo o seu possante escuro, tomada de fúria. Abre a porta no meio do nada e nos engolfa, sem pedir licença, sem nos dar chance. Nos abraça, aquele abraço sem calor, bafo gelado. Frio, medo. Nos arranca do tudo para o talvez nada.

Ela não fica à espreita, ela nos espera numa quebrada destas, de uma esquina qualquer de algum momento da nossa simples vida.
A morte não manda sms, não avisa pelo MSN, não deixa pista no twitter nem no facebook.
Ela dá as caras de cara mesmo. Audaciosa esta Senhora!
Chega chegando sem deixar nada em pé. Achaca, brutaliza, arrasa e destrói.

Um verdadeiro tsunami para os que ficam, um legítimo big bang familiar.
Interrompendo a história de quem vai. Ceifando de quem fica neste mar de interrogações e incertezas imediatas.

Ela nos olha de algum lugar e ela virá nos visitar.Não resta dúvidas sobre isto. Um dia ela vem certa como só ela é. É a maior certeza que temos. Um dia ela vai estacionar perto de nós. Inevitavelmente.

Ela, Senhora impiedosa, corta com uma adaga afiada o destino de quem ali for a sua vítima da hora. Não tem negociação, não tem barganha.

Pode passar os anos, posso experimentar muitas coisas, tentar com toda a minha vontade entender e estudar o que nos é reservado, já que nada é certo, portanto tudo é possível como já disse Margaret Drabble, mas ainda me abalo de forma arrasadora quando alguém próximo se vai.
Mesmo que digam que o caminho é de luz, ainda assim sofro e paraliso impressionada.

( Vai em paz, Débora.Que Deus te acompanhe.)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Janeiro


07:57 acordei com a batida seca de uma porta de carro. Soube que era você naquele exato instante, entre sonada e desperta, traduzindo o seu jeito decidido naquela batida estrondosa da porta. Você é assim, nada pela metade, tudo rápido e firme. Sempre bate a porta e eu nunca gosto, mesmo quando o objeto da agressão é aquele teu Volvo tão adorado.
Atenta ao barulho do elevador, percebi quando girou a chave e fiquei na expectativa da porta abrir. Ouvi os passos na curva do nosso quarto. Era você, não havia dúvidas. Fingi que dormia só pelo prazer de você me "acordar" com aqueles teus beijos demorados. Ah como são bons, adicionados àquele abraço no qual me perco, coisa dos deuses.
O silêncio era confortável. Pra que falar? Tantos desejos no ar.O meu, o teu e a nossa ausência sentida nos últimos dias.
14:09 acordei com o som do Kurt Cobain. É, definitivamente você estava em casa.
Caranguejos na panela, nosso mojito na coqueteleira antiga que compramos no brique da Redenção.
Nos atiramos na rede e conversamos aquele papo de preguiçoso que não leva a nada e ao mesmo a todas as curvas deliciosas de uma boa insinuação, de um outro sentido no meio de tudo. Benzadeus que temos as nossas conversas, loucas de vez em quando, sérias demais às vezes, pois como diz um amigo o que sobra é isto no final da vida a dois. Se conversa não rola,que tédio a velhice...
Ao fundo um som caribenho das nossas andanças pelo mundo.
Calça jeans surrada, camiseta branca, pés descalços. Aquela dobra das costas onde termina as costas, aparente ( latente?), me convidando a passar a mão numa leve carícia.
Não requebra, meu amor, porque aí não resisto a sua dança viril e charmosa. Você esbanja seu poder e como ótimo estrategista sabe exatamente quando deve usá-lo. Você dançou, bem ali na minha frente com a mão estendida me convidando a participar. No olhar um convite... para depois da dança. Ali explícito. Uma dança sempre  a dois, a participação ativa  meio a meio.
Encaixe dos quadris, sussurro no ouvido, promessas no ar, sensações, sol de final de tarde.
Você e eu. Cheios de intenções e ações.
Primeiro dia do ano.