segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Xô! Buuuuu

Filme Monstros S/A 

Despendemos um bom tempo da nossa energia criando monstros na nossa mente.

Adubamos a erva daninha, cuidamos do tempo de semeadura que geralmente é duro para qualquer colheita e quando menos se espera o bichinho vira um monstro. Aí fica lá entalado entre o caminho do coração e da cabeça. Rodeando entre caminhos tortuosos, criando ciladas para o nosso imaginário.

Mas a melhor parte de toda esta técnica elaborada de tortura pessoal é quando nos deparamos com o tal monstro e descobrimos que ele não passa de um sonho, e na pior das hipóteses um pesadelo sem pé nem cabeça, que a luz do dia não causa o menor assombro.

Sábado encontrei um desses monstros que cultivei um certo tempo e me deu até dó da figura patética que o tal bichinho aparenta e pior, é. Me diverti observando aquele pseudo monstro que somente morava nos meus devaneios.

Valeu muito ter encontrado a figura. Passou de imagem 3D para um simples preto e branco em vídeo VHS dos anos 70.

sábado, 7 de agosto de 2010

Um presente que só o tempo te dá


Ela sentou com a filha para tomar um café, num espaço na agenda atribulada das duas. Àquelas horas roubadas era um prazer para elas.

A filha ainda ficava impressionada com a facilidade da convivência agora entre elas. Afinal não moravam mais sob o mesmo teto.
E a mãe ainda se surpreendia ao olhar para aquela que seria a sua pequena para sempre.Vendo ali, na sua frente, a sua figura de anos atrás. A filha era um espelho para ela, mas não um reflexo ingrato do tempo, somente a sua figura repaginada. Aqueles mesmos olhos azuis transparentes, o mesmo corpo magro e longo de seus 20 e tantos anos e o brilho de um cabelo loiro quase platinado, herança dos traços germânicos da sua família paterna.

- Mãe, o passar dos anos tem seus privilégios. Não sei porque de tanta reclamação.  – disse Karen pensativa, tentado enumerar quais seriam já que ainda não tinha vivido este momento do tempo. 

- Tu não sabes o que fala! Ainda nem viveu tempo suficiente para abrirmos um fórum de debates sobre o tema. – disse Brigitte com um fio de sarcasmo na voz. Encolheu os ombros.

Trocaram de assunto e seguiram seus minutos preciosos entre um cappuccino e um pão de queijo naquela tarde de sol de inverno e frio lá fora.

Brigitte voltou para o consultório e entre dentes e aparelho, ficou martelando qual seria as vantagens da idade avançada, além das dores e limitações de um corpo cedendo ao tempo.

A tarde foi embora e a noite tomou conta do que foi o dia.

Quando chegou em casa, ouviu o som do marido aposentado traquinando com suas recentes incursões no mundo gastronômico. Deu três passos e ligou o aparelho da secretária eletrônica, subiu a escada embalada ao som da voz de sua melhor amiga de mais de 20 anos avisando que estava chegando ao Brasil.

Cheia de felicidade com a boa notícia, estancou entre um degrau e outro e percebeu ali o presente de se ter uma certa idade, a recompensa de uma amizade de longa data. Uma amizade de longa data só existe depois de muitos anos de respeito, parceria e reconhecimento.

Os anos são sábios – pensou .

Seguiu sorrindo de prazer.

domingo, 1 de agosto de 2010

Quando chove por dentro


Porque traição de amigo dói mais?


Talvez porque, de antemão, existe escondido entre um aditivo e outro no contrato amoroso, uma cláusula,  que é previsível (não agradável) o ato de trair nas relações amorosas. Será mesmo?

Pode ser que a dor seja mais forte porque insistimos na ilusão de que as relações de amizades são tecidas com tecido mais grosso, impermeável e resistente. Que o sentimento é mais constante e por conseqüência mais fixo, permanente, indestrutível. Primeiro vem a surpresa, a paralização do pensar depois vem a raiva e a vontade de brigar e por fim, a decepção

Ao perceber que numa chuva qualquer, ou mesmo num temporal o tal tecido não resistiu a surpresa invade o nosso corpo ao primeiro sinal de que algo que está nos molhando. O desconforto é imediato e com ele vem à tona outros sentimentos que incomodam, nos encharcam a alma e causa frio, frio nos ossos. Frio no coração.

Uma vez li um texto do Pedro Bial em que ele escrevia que devíamos tratar nossos amores como tratamos os nossos amigos. Resultando daí uma relação mais estável.

Em dias de certos temporais, prefiro tratar cada um como cada qual, assim as surpresas e as gotas de água grudadas no meu blusão não me incomodam tanto.