domingo, 15 de novembro de 2009

E o desejo se encontra com a insônia

Abriu os olhos e se deu conta onde estava. O silêncio da noite, a luz do abajur criando um clima de aconchego e aquela cama enorme e vazia. Vazia dele.
Despertou quando virou naquela rotineira mania de abraçar o corpo dele em determinado momento, no meio do sono e dos sonhos. Acostumada a passar a perna por cima do seu quadril e descansar a coxa ali e abraçar as suas costas. Desta vez quando virou abraçou o ar. Ele não estava ali.
Era a primeira noite sem ele. Claro que já haviam dormido separados nestes anos, entre uma viagem ou outro de um deles. Desta vez era diferente, o tempo seria mais longo.
No mesmo instante sentiu a fisgada física da saudade, do desejo, entre os lençóis, que ainda mantinha o cheiro dele. Enterrou o rosto no travesseiro e aspirou o ar impregnado do cheiro másculo.
Eles costumavam acordar o outro no meio da noite para se amar. A madrugada era feita para o amor preguiçoso, devagar e explorador, entre uma sonolência e um desejo despertando. Com a quietude lá fora, como testemunha, enquanto a cidade dormia.
Nas outras horas o amor era necessidade pura.Os anos juntos não diminuiu o tesão, a parceria entre eles só aumentou a vontade.
Inquieta, não conseguiu mais dormir. Virou para o lado, mas o calor já esquentava o seu corpo, a sua memória e seus sentidos.
Levantou, nua como sempre dormia, e percorreu a casa no escuro, encostou o quadril na soleira da porta do escritório dele e lembrou as inúmeras noites em que parou ali contemplando o seu homem enquanto lia ou estudava, concentrado no seu trabalho. Várias vezes invadiu aquela sala de forma silenciosa e passou a mão pelos seus cabelos cor de trigo, beijou a sua nuca e ele concentrado se surpreendia com sua presença, olhava indeciso se era uma visão e de repente abria aquele sorriso perfeito naquela boca carnuda. Aquela boca feita pra lhe dar o prazer dos beijos molhados. O mundo parava. Era o sinal sutil de que necessitavam um do outro. A tensão cravando as suas unhas no ar. De repente aquele homem sério e envolvido em seu trabalho se transformava no amante possessivo e exigente que ela adorava compartilhar jogos exóticos.
Entrou de mansinho.Sentiu o cheiro dele quando passou a mão pela mesa, seus pertences espalhados como se ele tivesse saído dali a poucos minutos. Aquela mesa que, na urgência do sexo, eles empurravam tudo e se amavam ali mesmo naquela madeira dura e áspera, sem importar o lugar, sem tempo para prorrogar a necessidade dos seus corpos. Na fome da carne.
Suspirou, fechou a porta devagar e bloqueou seus pensamentos.
Já estava amanhecendo e era preciso começar o dia de agenda cheia.
Para sua sanidade era relevante manter fechada algumas portas para agüentar o inverno dos próximos seis meses.

18 comentários:

Unknown disse...

Carol, ai ai essas suas histórias me arrepiam haha. Linda. Só de ler me deu saudades e quase que pude sentir o cheiro dele aqui pertinho. Beijos

Cris Medeiros disse...

Quantas noites dessa eu já tive! Affe!

Beijocas

Ana disse...

Muito bem escrito, parabéns!
Adorei a história, sexy, envolvente, descritiva, seria real? rs
Estou um pouco ausente, mas é por conta do trabalho. Daqui a pouco passa.

Dr.do absurdo disse...

Nossa, eu ia fazer a mesma pergunta da Ana no comentário acima...rs

Gostei muito. Envolvente e bem realista

Beijão

Babi Mello disse...

Carol, que lindo, excitante de ler. Parece real, afinal a riqueza de detalhe impressiona.
Bj!
Como sempre mandando muito bem nos textos, e esse é bem sexy.

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Está nascendo uma escritora?
Beijo.

Lili Tormin disse...

Carol querida, venho como um rajar de vento apenas para lhe presentear com dois selos!

Ps: Voltarei com mais vagar para uma boa xícara de café!

¨¨Édna¨¨ disse...

Oiii...
amei teu blog, voltarei muitas vezes aqui.
Mas preciso dizer: esse post me deixou com uma tristeza sem fim. Lembrei do meu namorado e da saudade enorme que estou sentindo dele.

beijos...

Mahria disse...

Hum delícia de história {jogos exóticos, sem importar o lugar...}
Sentir saudade é bom. As vezes agente sente do que nem existiu.

Bjs
Mah

Anônimo disse...

Descreveu uma noite minha. Fato. São irritantes quando acontecem, o sono me faz muita falta. Ah, a respeito do O Leitor, em breve farei a resenha. ^^

Um beijo !

Lolla...doida varrida! disse...

amiga, já tive noites assim...
obrigada pela força comentando lá no meu blog sobre o "anonimo" vcs são nota 1000
bjinhus............

Daniel Hiver disse...

As vezes, em nossas ausências quase insuportáveis, precisamos mesmo "...manter fechada algumas portas para agüentar o inverno dos próximos... meses."
Nos fechamos dentro de nós. E as insônias mais longas e loucas passam a nos fazer companhia.
de quantas noites assim eu sou composto?
De quantas insônias eu me tornei o que sou!

Prussiano disse...

Belo conto.... gostaria muito de vivenciar isto ! rsrs...

Bacana o blog...
Voltarei !

Tchüss

=]

Bill Falcão disse...

Como a saudade dói...
Bjoooooooo!!!!!!!!!!!

Lili Tormin disse...

A saudade e a distância sempre valem a pena quando existe a certeza do reencotro... Um doce consolo para as noites em que o vazio da cama se torna gritante!

Nine disse...

Carol, quando é o lançamento???

Tô aqui, boquiaberta com teus textos, incrívelmente bem escritos, envolventes... vim responder teu recadinho, comecei a ler o post e não consegui parar... Parabéns, menina!!!

Sobre o show - Bem queria, ah, só eu sei como queria... hahahaa... mas a grana curtíssima, fazer o que, né... curtir em casa mesmo!!! hahaha

Beijinhoooooooooooooooo

© Sara Marques disse...

Oi Carol!
Que delícia de post.
Você escreve muito bem...!
Bjs e uma Excelente semana!

Paloma Flores disse...

Parece um filme. A descrição da cena, os movimentos, os sentidos.
Adorei.

Beijo!