domingo, 8 de novembro de 2009

Ela, a partida e ele

Eles passaram a noite entre carícias, sussurros, risadas e amor, às vezes urgente e noutras selvagem, com ânsia e fome. Estavam famintos deles. Dormir era desnecessário, congelar o tempo era essencial. Não combinaram isto, mas havia um acordo tácito de prorrogar o tempo juntos.
Finalmente o tal dia chegou e por mais que imaginassem não estavam preparados para a emoção das últimas horas juntos. O assalto da dor, aquela fisgada de agonia pairando entre eles. O desejo, a fome, tudo misturado ao mesmo tempo agora.
Quando o dia começou a despontar ele, que nos últimos instantes estava encaixado no corpo dela, fez ela se virar e olhando nos seus olhos, na urgência da sua fome a estreitou nos braços e lentamente amou o seu corpo, a sua alma. Tocaram-se delicadamente em todas as partes, na intimidade dos locais que cada um sabia dar mais prazer ao outro. Amaram-se cansados e amarrados naquele gostar. Faziam isto sem coreografia ensaiada, focados em memorizar cada detalhe daquilo que seria somente lembranças nos próximos seis meses. A textura da pele, o cheiro, a voz aos sussurros e os gemidos. Sem a urgência do toque, na calma das sensações.
No caminho para o aeroporto o silêncio tinha vozes e para quebrá-lo, às vezes, ensaiavam um assunto ameno que se perdia depois de uma tentativa de diálogo. A tensão reinava por ali.
A ânsia de perder a imagem, os seus traços e seus trejeitos tão peculiares fazia com que se devorassem em olhares, olhares carregados de necessidades que sabiam que surgiria na ausência um do outro.
No balcão da companhia aérea ela observou o seu rosto mais uma vez e percebeu a tensão da sua boca, aquela boca que há poucas horas vagava pelo seu corpo lhe dando prazer, agora uma linha fina, reta e imóvel em sintonia com a mandíbula dura. Sabia que ali, morava um firme propósito, o de não chorar. Conhecia ele do inverso e do avesso e entendia que ele era o lado forte do time, que se ele desmoronasse ( e ela sabia que por dentro era o que acontecia) ela cairia e tudo se tornaria um caos. Num pêndulo, um dos lados tem que aparentar mais força. Este, naquela situação, era o papel que cabia a ele.
Eles odiavam despedidas então o combinado é que não haveria grandes cenas. Seria uma cena carinhosa, mas nada a la Casablanca. O abraço foi forte, aquela morena pequena e aquele loiro alto de olhos de uma imensidão azul. Ela se agarrou naqueles ombros largos e mais uma vez pensou como seus corpos se encaixavam de forma perfeita. Ele se perdeu naqueles cachos castanhos e desejou levar pra sempre aquele cheiro tão dela quando encostou e cheirou o seu pescoço, pela milésima vez. Em seguida lembrou que, às escondidas, colocou o perfume dela na mala para eternizar a sua memória olfativa nos momentos de saudade apertada.
A voz trancou para os dois, tamanha era a emoção, então se viraram para lados opostos.
Ela deu dois passos e não resistindo olhou por cima do ombro. Sentiu o cheiro dele bem perto, se virou. Ele colocou uma mão no seu pescoço enquanto que a outra mão puxava a cintura dela, pressionando para perto dos seus quadris. Ela riu, um risinho nervoso e se perdeu naqueles olhos. Beijaram-se com voracidade, esquecendo todos que estavam por perto. O tempo congelou e ele, com voz embargada, disse que seria difícil, mas o amor deles o alimentaria. Ela assentiu com a cabeça, não conseguiu falar, mas ficou tranqüila, pois ele sabia o quanto ela o amava. Não havia dúvidas entre eles, somente a confiança extrema entre parceiros de um grande time.
Então ele se foi e ela calmamente se dirigiu para o estacionamento. E ao som de Calling You na voz de George Michael, deu a partida e tomou o caminho de casa.
Em paz, por entender que ele tinha que ir para voltar para ela, mais tarde.

30 comentários:

Unknown disse...

Uau Carol, que história linda e romântica. Me deixou até excitada aqui ahha e me deu saudades tb de tempos assim Beijos e tenha uma ótima semana amiga!

Dr.do absurdo disse...

Uau!

Gostei muito!!

Anônimo disse...

Meu Deus, pude até ouvir a música. Detalhes incríveis, texnto lindíssimo ! Merece uma continuação, com certeza.

Um beiijo !

© Sara Marques disse...

Oi Carol!
Obrigada pelas palavras de carinho e felicitações!
Tem mais um selinho te esperando lá no Saracotear.
Bjs Querida!

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Carol,
"O amor é lindo!" E você descreveu muito bemmmm.
Beijo.

ale disse...

Ui! Arrepiei! Bj, ale

Dalva Nascimento disse...

Oi, Carolina!

Que linda história de amor e paixão...

Boa semana!

Bjs.

Dany disse...

Me arrepiei com essa história! Lindíssima. E me identifiquei com boa parte desse texto, na despedida que tive com meu último ex.
Caraca, às vezes parecia que era de mim que vc falava!
^^

Perfeito! Parabéns!
Bjos

p.s.: Um bom texto pra ouvir ao som de Leoni! ;)

~*Rebeca*~ disse...

Néctar da Flor faz a primeira Blogagem Coletiva onde o tema é: Um conto de amor com cheiro de Néctar da Flor. É com muita felicidade que convidamos todos a conhecer um mundo encantado que há dentro de cada um. Conte um conto, seja personagem da sua história e sinta cada palavra escrita na hora que for contar.


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Sonia disse...

Excelente história!
Falar em amor,relacionamento,romantismo,td mulher curte!
Até quando no amor há tapas e beijos!(Risos)
Uippp...!!!

Daniel Hiver disse...

Carol...
Perfeita essa descrição: "Estavam famintos deles. Dormir era desnecessário, congelar o tempo era essencial." Isso é perfeito por que temos essa noção de tempo muito curto quando estamos famintos de alguém que, por sua vez, também está faminto da gente. Mas as despedidas adiam nossos sonhos, ou simplesmente os atenuam... Triste é quando as despedidas se tornam definitivas. Aí, com ou sem George Michael, vertemos as lágrimas mais amargas que existem. Nãs as escorrem pelo rosto; mas as que fazem o coração ficar molhado.
Uma boa semana!
Daniel Hiver
http://hiverdaniel.blogspot.com

Paloma Flores disse...

NOSSA! Que lindooo!
Se eu disser que chorei, vai ser muito brega? Hahahaha!
Lindo mesmo!
Ótima semana!

Lili Tormin disse...

Olá Carol,
Nossa menina, estou com olhos marejados. Despedidas sempre mechem comigo de forma íntima e sensível.
O conto é tocante e de muito bom gosto... Como sempre, o papo aqui é de ótima qualidade.

Saudações
*Lili

Babi Mello disse...

Carol que conto lindo, maravilhoso e lendo coisas assim vejo que a esperança que ainda posso amar e ser amada, ser feliz e viver intensamente um grande e verdadeiro amor.
Você arassou, me inspirou.
Sem palavras, bj!

Lay. disse...

Lindo, perfeito!

Muito obrigada pelos comentários, me ajudam muito :)
Olha meu novo post tem haver com o seu comentário!

Beijoos

rt disse...

George Michael??? O amor deve ser surdo! - :)

Valéria Martins disse...

Que lindo, que gostoso e que triste! Por que os amantes têm que se separar sempre? Esse finde assisti ao filme a Madame Chanel e me lembrou a Piaf. No auge da felicidade, a ruptura. Cruzes! Quero acreditar que pode ser diferente...

Beijos, querida!

Anônimo disse...

Boa tarde.Sou visitante novo, descobri o teu blog através do blog Doce vid@ Dura, e achei bem interessante o que vi e li.Sensual e inteligente é o resumo deste texto que postastes.Parabéns.Voltarei mais vezes para curtir o teu blog.
Tenhas uma ótima quart-feira.
Abraço.

Sonia disse...

Oiê?
Vim agradecer o comentário que amei e dizer que coloquei seu link em meu blog.Esta lá junto de todos os blogs que amo.
A vida já é tão difícil,pelo menos aqui eu tento animar!Uippp...rsrsrs
Bjsss...

Depois dos 25, mas antes do 40! disse...

Adorei a história aqui! Pude me sentir dentro dela!

Adorei também seu último comentário no blog! Arrasou!

Beijos

Lolla...doida varrida! disse...

esse livro um toque na estrela é bom, muito bom, ótimo ou razoavel? sou viciada em leitura e tô querendo uma indicação de livro.
aguardo....bjin;)

Mahria disse...

Nossa que conto lindo. Me emocionei.
Vai ter segunda parte? A Volta. rs

Bjs
Mah

meus instantes e momentos disse...

bonito, muito bom.
Maurizio

clique documental disse...

Núuu contos como estes deixam a gente assim... de pernas bambas...

Prazer conhecer seu blog Carol.

Wacinom disse...

Adorei o café espero que aceite um convite par aum chá.
beijos

Daniel Hiver disse...

Bom final de semana!
Apareça sempre...
Cheguei a te dizer que tens um talento todo especial em descrever de maneira precisa os detalhes?
Grande qualidade narrativa. Grande qualidade em todos os sentidos e aspectos da vida. Pois quando se está e se é atento aos detalhes tudoganha mais vida e intensidade; e sentido!

Adriana Calábria disse...

Fiquei sem fôlego! Muito lindo Carol!
Bjsss

~*Rebeca*~ disse...

E com tanto sentimento assim ele volta.. volta sim.

Beijo grande, menina linda.

Rebeca

-

Ana Santos disse...

Carol, sabe quando a gente se apaixona por algo que parece vício?
Nossa! estou apaixonada por este cantinho da net... me sinto numa cafeteria, realmente a vontade pra um papo a mais. rs rs rs rs
Beijos mil e tenha uma semana maravilhosa, cheia de benção!!!

Denise Egito disse...

Ufa! Li de uma só vez quase perdendo o fôlego, mas me segurando num restinho de ar pra continuar.
Parece que já vivi isso tudo. Uau!
Sem fÔlego ainda.
Muito lindo, muito poético e real.
Um beijo e boa semana pra você