segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Do que não foi e poderia ser. Ou do que não poderia e foi.


“– Você já teve um amor impossível?
- Todo mundo teve! E se fosse possível, não teria deixado tanta saudade. As melhores coisas são as que não se realizam. Viram um gancho em que você pode pendurar o que quiser. "
Maria Adelaide Amaral em entrevista para Revista Marie Claire.

Quantos projetos não saíram da gaveta e volta e meia você se pega pensando neles como um mega projeto revolucionário?
A melhor idéia, em algum momento, você pode acreditar que é aquela que jamais saiu do papel?
Quando te perguntam qual foi a melhor amiga da sua vida, você lembra daquela que chegou sem pedir licença, se instalou no seu ser e sem mais nem menos, por uma briga fútil foi embora sem dizer adeus? Ou melhor, lembra da amiga de infância que ficou lá... na infância.
Quando pensamos na sogra ideal, não lembramos da atual. Direto vem na mente aquela que sempre morou na Sibéria.
A melhor relação é aquela que não durou para ver o dia a dia e suas atribulações chegar ?
O namorado perfeito foi o anterior? Nem lembramos mais que no término ele entrou com o pé e nós com a bunda.
O melhor emprego é aquele que não fomos selecionados. Ah, naquele você ia estourar. Com certeza!
Cidade maravilhosa é aquela que passamos férias das nossas vidas?
O melhor sonho é aquele que ainda alimentamos na nossa caixinha de Pandora chamada cabeça, mesmo que já tenha passado 15 anos?
A melhor fase foi a adolescência, afinal agora você está com 40 anos. Deletou todas as crises de questionamentos que veio no pacote existencialista do alto dos seus 16 anos.
O grande amor é aquele que não vingou ou que já se foi?
Então, caro amigo, além da nostalgia você pendurou vários "se" no cabide do seu armário chamado eu.

Tendemos a nos apegar como náufragos no impossível, no que não aconteceu e não acontecerá. Há de se ter cuidado e atenção para não jogarmos uma responsabilidade indevida em algo que não temos como advinhar.
O impossível seduz, nos consola, nos dá chance de pensar na nossa própria reinvenção. Quem sabe um dia? Algumas vezes o que jamais será nos alimenta, nos alavanca para um futuro mais prazeroso. Muitas vezes ele nos faz emagrecer, nos causa fome. Fome de ser o que não seremos ou não faremos. Por comodidade, por covardia podemos minguar.
Precisamos muitas vezes destas doses homeopáticas para enfrentrar a dura realidade, mais crua mais nua do que nossos sonhos coloridos em telas de HD.
A sabotagem ocorre quando extrapolamos o imaginário e levamos para competir com a nossa realidade nos enredando na teia da zona de conforto para tornar mais fácil os futuros insucessos que inevitavelmente acontecerão. Acontecerão porque já aceitamos eles como destino. Inevitáveis, pois já estamos com um pé para que dê errado.
Comparar o que é com o que poderia ser é golpe baixo. A realidade não ganha a corrida. Só existe comparação entre o concreto e o concreto. Se compararmos sonhos não vingados com projetos realizados há uma desvantagem injusta entre o que foi e o que ficou no ar. A competição é desonesta. Sabemos quem ganhará esta partida.
E ali se instala o abismo entre você e o mundo. Percepção é tão subjetivo, tão pessoal e este pessoal é tão íntimo de nós e tão somente nosso que ali pode encontrar-se, camuflado entre o real e o sonhado, desejos frustrados. Ou no apego acomodado da ilusão do que jamais será?

22 comentários:

.ailton. disse...

com esse eu nao concordo.
com a exceção da melhor fase de minha vida, que foi a infância, discordo de tudo do primeiro parágrafo. eu nao tenho nenhuma das outras nostalgias. será que sou realista demais?

mas sobre este assunto, costumo citar Milan Kundera, que disse que a vida só pode ser vivida uma única vez. Assim, concordo contigo quando afirma que a comparação entre realidade e imaginário é desonesta.

Ótimo texto!

Cris Medeiros disse...

Muito legal seu texto! Eu já pensei sobre esse tema... É porque aquilo que não vivemos é o que não experimentamos os defeitos, o desgaste, então o registro mental que fica é todo positivo... rs

Beijocas

Cris Medeiros disse...

E vc sintetizou bem o que quis dizer no meu post... ehehehe

Beijocas

Dr. do absurdo disse...

Belo texto Carol. A gente tende a super valorizar aquilo que poderia ser, o que seria o nosso chamado "impossível". Nossa capacidade imaginativa é grande por isso não gostamos tanto daquilo que está a mão. Mas do que adianta ficar lamentando aquilo que não foi? (aprendi contigo), o melhor é tentar fazer sempre o que quer e se não deu, abandona, ficar acalentando coisas perdidas, nos faz perder tempo e permanecer no mesmo lugar. Não vale a pena!

Beijo

Unknown disse...

Carol, você como sempre me emociona com seus textos tão lindos e profundos.
Mas minha melhor amiga sim foi a da infância e ainda somos boas amigas e sempre qeu vou ao Brasil a vejo, nos falamos por email, e eu sim lembro das coisas ruins do meu último relaciomento, mas é verdade que de repente as coisas boas superam as dificuldades e só lembramos delas e a saudade mata.

Eu sou meia nostálgica, meia futurista, sonhadora, mas a verdade a vida só acontece no presente. Eu estou aprendendo a viver o agora. Beijinhos meus com muito carinho!

Natália disse...

Seu texto tem muito a ver comigo, vc consegui resumir tudo de maneira divertida e inteligente,afinal, olhe o nome do meu blog...

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Carolina,
Aí entra, também, a questão da idealização.
As coisa, às vezes, nem foram tão boas, e nem seriam, mas pela idealização são vistas como ótimas.
Beijos.

Denise Egito disse...

Carol,
Penso que devemos ter a lucidez de não viver nem lamentar o passado. Nem idealizar o que poderia ter sido seja um amor, um emprego. O passado deve ser esquecido (principalmnete as más lembranças). Devemos nos despedir dele e seguir em frente.
Um beijo

Nine disse...

Carol, perfeito teu texto, e é exatamente isso que vivo muitas vezes, principalmente quando me sinto totalmente insatisfeita com meu momento... hahaha. Rio,mas é sério... a gente tende a supervalorizar o que não concretizou, achando que seria perfeito só porque não experimentamos por completo a situação... Ultimamente ando conseguindo refletir mais sobre isso, e ver o real valor do que estou vivendo agora, mas já fui bem problemática... imagina!!! Quase não me casei, pensando no que poderia ser se fosse outro... e no entanto, hoje, não vejo melhor decisão em esquecer o passado e abrir uma brecha para o novo que desponta sem a gente esperar, planejar...
É, Carol... sempre temos uma nova lição, seu texto foi a minha lição de hoje.

Beijo enorme!!!

Babi Mello disse...

Carol,

Qtas vezes nos pegamos pensando nisso "no que poderia ter sido e não foi" acho que em todas as esferas pensamos nisso, é inevitável, mas se não aconteceu pode ser que existe algo bem melhor esperando por nos.
bj!

Mary disse...

Pois é... o apego ao 'que não foi' ou ao 'quase deu' é que mata o presente.
Já fui assim. Achava que a felicidade era algo que havia passado e eu mal tinha aproveitado. Aí fazia planos pra daqui há 20 anos empurrando tudo pra depois da tempestade (que nunca ia embora).
Agora eu sei que o presente depende do presente e não do que passou.
Vivo o hoje direitinho pra garantir o amanhã que eu quero. Planos? No máximo pra semana que vem... e olhe lá!

Ótima reflexão.

Beijos meus.

Renato Oliveira disse...

Olá Carolina.
Sempre tenho a agradecer pelas tuas visitas. Tuas colocações são bastante interessantes e agregam muito a partir da idéia proposta. Acho muito válido.

Este teu escrito está excelente. Mais especificamente, esta parte me chamou muito a atenção: "Só existe comparação entre o concreto e o concreto".
Fiquei pensando a respeito de quantas pessoas sofrem e distanciam-se de quem são ao se projetarem na realidade do outro, a qual é tão distante, enigmática também.

Enfim, ótima semana.
Abraços.

Dalva Nascimento disse...

Este tema é mesmo muito polêmico... é muito fácil fantasiar sobre o que poderia ter sido, o que poderia ter acontecido. Não é justo contrapor o que temos de concreto, o que realizamos, o que fazemos, o que construímos com a pura fantasia do que não foi. Como você disse: golpe baixo! Excelente texto e reflexão, como sempre!

Bjs.

Cristiano Contreiras disse...

Seu blog é sempre intenso e conceituado, eu realmente só tenho a admirar.

Viva a reflexão aqui, parabéns!

Ana disse...

é, ontem mesmo estava relembrando como eram bons os "velhos tempos".
só são bons pq são velhos e o que era ruim foi deletado.
A gente tem essa mania de achar bom o que não é real. talvez seja o alívio que precisamos. sem exagerar, é claro.
beijos

Bill Falcão disse...

É um tema legal esse, Carol! Temos mesmo esse negócio de ficar comparando nossa realidade com o que poderia ser. E ficamos naquela do "se"... Tentando imaginar como seria nossa vida se tivéssemos seguido por outro caminho, e não este onde estamos agora. E, confesso, é difícil se libertar disso. Mas, como você disse, é covardia comparar a realidade com a imaginação.
Bjooooooo!!!!!

Anônimo disse...

Carolina sou sua seguidora há um tempo... adorei o post. Estava pensando sobre isso esses dias... e aproveitei para fazer menção do post no meu blog(com os devidos créditos viu). Se quiser conferir o endereço é http://balzaquianacomz.blogspot.com/

Valéria Martins disse...

Ah, eu não acho isso, não. Procuro me ater, cada vez mais, no real. Nada de idealização, nada de apego ao passado. Vamos olhar pra frente! O melhor lugar do mundo é aqui e agora!

feriadoantecipado disse...

oi caroool, quanto tempo...bah guria se puxando como sempre hein...tah, quanto ao post, tudo que deixou de acontecer a gente não sabe como acabou ou acabaria, por isso essa curiosidade de querer saber como ia acontecer e/ou como ia acabar...tipo quando vc está jogando alguma coisa e tem que parar no meio, sabe?!...e como o ser humano é cheio de problemas existenciais isso fica remoendo na cabeça...shuashuashua...

bom resto de semana para vc e para os leitores...
abraços...

Aninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aninha disse...

Carol,

Ainda bem que ao abrirmos a caixa de Pandora pula bem lá de dentro a "esperança"... Talvez esse único dom de Pandora tenha servido para eliminar a culpa de Zeus ao criá-la (Pandora)... Quando sentimos as decepções trazidas pela vida... os desejos não realizados... algo tão real, absurdo, concreto!! E vem a esperança... como uma forma de alento. Talvez uma forma de nos manter perseverantes diante das adversidades. De querer viver o presente!!!

Abraços, Clorofila.

Ana Santos disse...

Infelizmente de tanto pensar neste assunto, numa certa fase da vida, mergulhei na maior depressão!
Mas hj consigo racionalizar as coisas e tento não pirar....

Amei o texto!
Parabéns!!