segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ela, a partida e ele

Eles passaram a noite entre carícias, sussurros, risadas e amor, às vezes urgente e noutras selvagem, com ânsia e fome. Estavam famintos deles. Dormir era desnecessário, congelar o tempo era essencial. Não combinaram isto, mas havia um acordo tácito de prorrogar o tempo juntos.

Finalmente o tal dia chegou e por mais que imaginassem não estavam preparados para a emoção das últimas horas juntos. O assalto da dor, aquela fisgada de agonia pairando entre eles. O desejo, a fome, tudo misturado ao mesmo tempo agora.

Quando o dia começou a despontar ele, que nos últimos instantes estava encaixado no corpo dela, fez ela se virar e olhando nos seus olhos, na urgência da sua fome a estreitou nos braços e lentamente amou o seu corpo, a sua alma. Tocaram-se delicadamente em todas as partes, na intimidade dos locais que cada um sabia dar mais prazer ao outro. Amaram-se cansados e amarrados naquele gostar. Faziam isto sem coreografia ensaiada, focados em memorizar cada detalhe daquilo que seria somente lembranças nos próximos seis meses. A textura da pele, o cheiro, a voz aos sussurros e os gemidos. Sem a urgência do toque, na calma das sensações.

No caminho para o aeroporto o silêncio tinha vozes e para quebrá-lo, às vezes, ensaiavam um assunto ameno que se perdia depois de uma tentativa de diálogo. A tensão reinava por ali.

A ânsia de perder a imagem, os seus traços e seus trejeitos tão peculiares fazia com que se devorassem em olhares, olhares carregados de necessidades que sabiam que surgiria na ausência um do outro.

No balcão da companhia aérea ela observou o seu rosto mais uma vez e percebeu a tensão da sua boca, aquela boca que há poucas horas vagava pelo seu corpo lhe dando prazer, agora uma linha fina, reta e imóvel em sintonia com a mandíbula dura. Sabia que ali, morava um firme propósito, o de não chorar. Conhecia ele do inverso e do avesso e entendia que ele era o lado forte do time, que se ele desmoronasse ( e ela sabia que por dentro era o que acontecia) ela cairia e tudo se tornaria um caos. Num pêndulo, um dos lados tem que aparentar mais força. Este, naquela situação, era o papel que cabia a ele.

Eles odiavam despedidas então o combinado é que não haveria grandes cenas. Seria uma cena carinhosa, mas nada a la Casablanca. O abraço foi forte, aquela morena pequena e aquele loiro alto de olhos de uma imensidão azul. Ela se agarrou naqueles ombros largos e mais uma vez pensou como seus corpos se encaixavam de forma perfeita. Ele se perdeu naqueles cachos castanhos e desejou levar pra sempre aquele cheiro tão dela quando encostou e cheirou o seu pescoço, pela milésima vez. Em seguida lembrou que, às escondidas, colocou o perfume dela na mala para eternizar a sua memória olfativa nos momentos de saudade apertada.

A voz trancou para os dois, tamanha era a emoção, então se viraram para lados opostos.

Ela deu dois passos e não resistindo olhou por cima do ombro. Sentiu o cheiro dele bem perto, se virou. Ele colocou uma mão no seu pescoço enquanto que a outra mão puxava a cintura dela, pressionando para perto dos seus quadris. Ela riu, um risinho nervoso e se perdeu naqueles olhos. Beijaram-se com voracidade, esquecendo todos que estavam por perto. O tempo congelou e ele, com voz embargada, disse que seria difícil, mas o amor deles o alimentaria. Ela assentiu com a cabeça, não conseguiu falar, mas ficou tranqüila, pois ele sabia o quanto ela o amava. Não havia dúvidas entre eles, somente a confiança extrema entre parceiros de um grande time.

Então ele se foi e ela calmamente se dirigiu para o estacionamento. E ao som de Calling You na voz de George Michael, deu a partida e tomou o caminho de casa.

Em paz, por entender que ele tinha que ir para voltar para ela, mais tarde.

5 comentários:

Vaneza S. disse...

Nossa! Vivi tanto isso esses dois ultimos anos. Só via o meu marido de 4 em 4 meses. E revivi tudo isso agora nesse texto. Aff... foi de partir o coração.

BeijoZzz

Lu Lou disse...

Lindo texto! Trouxe de volta toda a mistura de sentimentos envolvida nessa situação e quem já passou por ela sabe como é terrível.
Abraços

José María Souza Costa disse...

Passei aqui lendo o seu blogue. Achei belissimo. Aproveito para lhe desejar um Natal com muita Paz e Harmonia. E lhe convidar a visitar o meu blogue que é muito simplório e se possivel seguirmos juntos por eles
Estarei grato esperando por voce lá
Abraços de verdade

Babi Mello disse...

Carol que arasso de texto, fui vislumbrando os detalhes, lindo, expressivo, apaixonante.
Queria pedir desculpas por não aparecer por aqui há um certo tempo, andava mto corrido as coisas e agora que consegui dar uma folda, e venho aqui e vejo esse texto super romantico.
Aproveito para te desejar boas festas e que em 2011 vc conquiste o mundo.
bjos!!!

Dri Andrade disse...

Antes tarde nada, os amigos são sempre bem vindos a qualquer hora!!

Amada,Saudades de vir aqui,aos poucos vou voltando á blogosfera e não poderia deixar de vir aqui agradecer seu carinho lá no blog.

Obrigada viu??
feliz natal pra vc e os seus.
beijossssssss