domingo, 29 de junho de 2008

Refletindo sempre

"Meninas

Se estivermos atentos e interessados, o tempo e a convivência amorosa se encarregam de nos ensinar uma ou duas coisas a respeito do sexo oposto. É um aprendizado longo e inesgotável, como tudo que diz respeito à condição humana: a gente desconfia de muita coisa e simplesmente não parece capaz de entender outras tantas.


Com relação às idiossincrasias do nosso próprio sexo, somos em geral analistas muito comprometidos e falhos, com sérias tendências a tomar como verdade o que, às vezes, é apenas uma perspectiva. (Se eu quisesse provocar, diria que esse é um raciocínio tipicamente feminino, já que homens, tomados a granel, não costumam levar em conta que os fatos podem ser ordenados e compreendidos de outras formas - e às vezes encaram a diferença como ofensa pessoal, o que, no limite do troglodismo, dá origem à misoginia e à homofobia.
Enquanto as mulheres, numa generalização igualmente grosseira, parecem estar sempre desconfiadas ao extremo da própria opinião - o que, também no limite, pode levar à apatia ou à eterna dependência.)

Para entender o próprio sexo com algum distanciamento crítico, nada melhor do que observar um espécime em formação desde antes do nascimento. E de muito perto. Esse, pra mim, foi um dos bônus mais surpreendentes da maternidade: criar uma menina ensina mais sobre as mulheres do que todas as conversas com as amigas, todas as disputas com as irmãs, todos os conflitos com a mãe, tudo o que nos ajuda a construir mentalmente um ideal feminino, e humano, do qual gostaríamos de nos aproximar. Acompanhar como uma menina constrói seus laços sociais, o que a alegra e o que a faz sofrer, como aprende a conseguir o que quer e a evitar o que é incômodo é a maior lição prática sobre tudo o que pode ser sublime ou tolo no sexo feminino.

Mesmo sabendo que somos as responsáveis por boa parte das mensagens complexas e contraditórias que elas recebem enquanto crescem - devem ser fortes e sensíveis, inteligentes e vaidosas, doces e determinadas, tudo isso em medidas diferentes conforme a exigência da ocasião - é sempre imprevisível a forma como nossas filhas vão absorver o caldo cultural e histórico em que são criadas. Às vezes, elas parecem pensar, sentir, brincar de um jeito que já é claramente diferente do das meninas de 30 anos atrás. Em seguida, estão sentadas no quarto brincando com o mesmíssimo "jogo da verdade", fazendo as mesmíssimas mesmas perguntas - como se os anos não tivessem passado, e as mulheres não tivessem mudado tanto assim (sempre querendo transformar as verdades afetivas em palavras e em repertório comum a ser exaustivamente analisado).

A mulher do futuro, um pouco parecida com a gente, outro tanto bem diferente, cresce bem diante dos nossos olhos e nos ensina, entre outras coisas, a analisar nossas mães e avós de forma mais generosa. Porque por mais únicas e irrepetíveis que cada uma de nós goste de se imaginar, somos também o resultado possível de uma determinada época - e uma das funções da geração seguinte é exatamente nos cobrar, mais cedo ou mais tarde, por tudo aquilo que não conseguimos ser."
* Crônica de Claudia Laitano - jornalista do jornal Zero Hora.

Legal!
Bom domingo.

2 comentários:

Menina de óculos disse...

Olá, vi que vc me linkou ao seu blog. Obrigada!

Adorei o texto. Nós mulheres somos cheias de complicações...rs

Beijos

Anônimo disse...

Oi Fran, que bom te ver por aqui.E vero,a-m-e-i teu blog.Sempre que quiser,aparece pra gente tomar "um cafezinho e bater um papo". Bjos