sábado, 19 de fevereiro de 2011

Noites de tormenta



Hoje sonhei com o término de uma relação. Tenho sonhado de tempos em tempos com isto. Alguns junguianos de plantão dirão que ando com medo, que é meu inconsciente sinalizando ou se anuncia por aí uma separação e blábláblá.
Não, queridos pseudo psicos, estamos bem. Muito bem e ponto.
Sonho por sonhar, sem neuras porque como diz o ditado sonhar não custa nada.
Sonho com separação, mas não com o ato em si, mas com a sensação.
Aquela sensação ruim na boca do estômago, pânico, vazio na alma que acompanha os primeiros dias, aquela ausência do corpo do outro não mais perto do seu corpo, a falta da voz, do cheiro, do tudo. Dos dias nublados, das reticências, dos questionamentos no ar, da ansiedade que fica, da angústia pelo reparo de danos que não acontecerá. Aquela dor no peito, aquela coisa toda doida ou doída.
Aquele dia que já amanhece desbotado, sem cor.
Aquele tempo de recomeço, empurrar fotos pro fundo da gaveta, doar os objetos comprados nas viagens idílicas. E aquela camisa que ele esqueceu, na saída apressada do apê e da sua vida? Tratamos de enfiar num lugar que jamais vamos cruzar, mas não jogamos fora. Quem sabe um dia a gente consiga olhar com indiferença aquele trapo de lembrança remendada de alguém que já passou? Usamos de todos os mecanismos de auto defesa para seguirmos adiante.
E dormir junto? Esta com certeza é uma das partes complicadas de não ter mais o outro, porque é um ritual do bem dormir enroscada, quentinha, apaziguada. Este é um quesito que precisa-se urgentemente de um manual de como ocupar o espaço vazio daquela king size vazia no escuro da sua noite. Agora me puxei na dor da ausência gritada e sentida (risos).
Já não se pode pensar em nós, em perguntas banais como quando um amigo pergunta, nesses tais dias nublados : - Você vai na festa do Bruno? E automaticamente você responde que sim, nós vamos. Para também automaticamente cair em si que só você vai na festa do amigo. Plurais são descartados, com uma fisgada de dor.
Um tempo de tristeza, de ausência, de falta, de readaptação e de desintoxicação.
Não lido bem com fim de relação. Quem lida? Conheço gente que cai em pé, tipo gato, mesmo sofrendo. Eu não. Emagreço, arrasto correntes, durmo mal, penso mal, vivo mal. Pode ser um dia ou um mês, mas é uma temporada no umbral. Abandonos em definitivo não é a minha praia, não importa de que lado for. Claro, já saí de uma relação para outra e mesmo assim por maior que tenha sido a dose de paixão do momento, senti a falta do outro. Porque quando falo em dor de separação, não falo só quando você entra com a bunda e o outro com o pé. Quando você dá o cartão vermelho e pede pra sair, também dói e muito.
Saibam que não só o que leva é o que toma. O inverso é verdadeiro. E muitas vezes paulatinamente. Sou daquelas que vou até o fundo do poço, comigo mesma. Sem melodramas que não sou chegada na latinidade da coisa. O drama fica no meu interior, eu com eu. Até que um dia consigo emergir e aí sim viro a página, enterro, rezo a missa de sétimo dia, tiro o luto e volto pra luta, com o perdão do trocadilho. E aquele ser que me fez sofrer ou aquela relação que a fatura foi alta fica totalmente no passado. É uma catarse particular. Necessária. Mas neste processo enquanto não se dá o tal impulso pra sair do poço fico mal, não posso negar. É praticamente uma dor física, crispada e traduzida na leitura dos meus olhos.
Então é isso, tenho sonhado com esta incômoda sensação do outro afastado, da relação quebrada feito bolacha cream cracker.
A única sensação boa, em sonhos ou na vida real, é a certeza de que é sempre passageira, não vivem em nós por muito tempo. Um dia acordamos e descobrimos, cheios de prazer e surpresa que ela foi embora junto com a pessoa. Alguns masoquistas estalam os dedos, assobiam por ela, mas não adianta ela pegou as malas e partiu. Não está mais lá.
E vamos embora recomeçar. Tudo de novo.
Amar tem destas coisas.

11 comentários:

Cris Medeiros disse...

Gostei muito do texto, porque é o que acontece comigo... rs

Acho que custo me apaixonar por alguém, porque meu cérebro sabe que quando me apaixono parece que fico consumida por aquilo. E é tá difícil esquecer a pessoa caso não dê certo.

Lembro que do meu primeiro marido eu fiquei oito meses muito mal, não comia, chorava e bebia muito. Só depois de 3 anos é que consegui me entregar novamente a uma outra paixão. Eu o amava muito e foi ele que terminou comigo.

Já o segundo marido foi tudo bem diferente. Eu casei sem gostar, fiquei com ele cinco anos e nos três últimos pensava em me separar constantemente. Quando me separei veio o alívio e logo depois percebi que não importa se gostamos ou não do cara, o buraco na vida fica de qualquer maneira. São os costumes, tudo que fazíamos juntos. Levamos um tempo pra desintoxicar, mesmo.

Só agora depois de 2 anos de separação é que meu coração se abriu novamente, mas dessa vez, esse período, não foi porque gostava do segundo ex, foi trauma de relação ruim mesmo... eheheh

Agora duas coisinhas. Dormir junto eu odeioooooo! Se pudesse eu namorava na mesma cama, depois ele teria uma dele pra dormir. Aguentar ronco, pernada, espaço reduzido na cama, não é comigo... rs

Se sonho fosse prenúncio de algo, eu já estaria com um homem maravilhoso, porque volta e meia sonho que estou dentro de um romance lindo com um desconhecido maravilhoso... eheheh

Beijocas

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Carol,
São sonhos bons para provocar reflexão, tanto que até dão origem a posts ricos, como o seu.
Bjs.

Unknown disse...

Carol amiga,
Sonhos tem dessas coisas, não podemos controlar ou evitá-los, mas como vc disse das sensações, os sonhos tb passam e é bom saber que são apenas sonhos e mais nada, beijos e ótimo fim de semana!

Lu Lou disse...

Belo texto, Carol! Chegou na hora certa... Só posso assinar em baixo ;-)
Beijinhos,
Lu

Dri Andrade disse...

Carol, os sonhos tem esse poder de nos fazer refletir e mexer com a gente, eu mesma costumo ter uns que me deixam bem pensativa e por diversas vezes parace que me foi mostrado pra acontecer depois.
De qualquer forma,ótimo texto, tudo melhora depois de uma boa noite de sono.

bjs

Néia Lambert disse...

Oi Carol, estou conhecendo seu blog hoje, gostei muito da forma como vc escreve, seus textos são leves, fluídos, gostosos de ler, parabéns!

Beijos

Ana Santos disse...

Acho interessante esses psicos que dizem que sonho é sempre prenuncio de algo. Eu sempre sonho que sou magra, tenho graninha no bolso e na conta e estou formada. Pois eu continuo goorda, contando moedinhas e com a facul trancada.
Gostei muito do seu texto e fiquei feliz em saber que você e 'love' estão bem, é o que importa!!!

Bjs e boa semana!

Bill Falcão disse...

E muitas vezes, mesmo não querendo, recomeçamos!
Bjoo!!!

© Sara Marques disse...

Carol Querida,
Adoro suas postagens...
Quando lembro dos meus sonhos, passo a manhã inteira buscando alguma msg que me faça refletir ou me trazer um alento.Enfim..."Sonhar é Preciso".
Bjs e um excelente fds.

DOIDINHA DA SILVA disse...

Nossa, que post bem escrito...

Suzy disse...

Nossa...
Disse tudo que estou sentindo nesse momento...
Mas, calma... Ainda estou na fase chorosa, da saudade, da dor no estômago, do frio na barriga, das noites infelizmente mal dormidas...
Está difícil, muito difícil por sinal... Namorei 5 vezes, e este último (o 6°), foi o que realmente amei e no qual estou sofrendo muito...
Há um mês aconteceu isso.. E, neste último final de semana, foi quando caiu minha ficha... Foi quando as lágrimas não pararam de cair... Chorei amargamente e intensamente...
Neste momento, estou apática, desinteressada das coisas... Exatamente no fundo do poço como você comentou... Só espero não demorar muito aqui... Está frio, está escuro e estou quase doente...
Espero que meu psicológico dê sinais de recuperação novamente...
Um beijo!